AULA 1: HISTÓRIA, POLÍTICA E SOCIEDADE NA GRÉCIA ANTIGA

sábado, 1 de agosto de 2020


A Grécia Antiga se localizava na parte sul da Península Balcânica, nas ilhas do Mar Egeu, sul da Península Itálica e litoral da Ásia Menor. Por ser um território tão vasto, repleto de montanhas, havia uma grande dificuldade em formar um território e governo único, o que favoreceu muito a formação das “póleis”, ou cidades-Estados.

Essas cidades eram relativamente pequenas, com cerca de 5 mil habitantes, podendo chegar a 20 mil nas cidades maiores. Cada uma delas tinha suas próprias características, podendo determinar seu próprio governo e organização militar.

Também por conta das montanhas e do solo pobre, a base da alimentação eram os cereais. O fácil acesso da região ao mar favoreceu a expansão marítima e, futuramente, o comércio.

Mesmo que espalhados por uma grande área, em pequenas cidades com organizações distintas, ainda havia uma grande identificação com a cultura grega. Dizia-se que “onde quer que houvesse gregos, ali estava Grécia”. A Grécia Antiga não se determinava apenas pelo território ocupado, e sim pelos aspectos religiosos, culturais e linguísticos compartilhados por aquele povo.

 

SURGIMENTO DA CIVILIZAÇÃO GREGA

 

É creditado por muitos historiadores que o início da civilização Grega se deu início na ilha de Creta, maior ilha do Mediterrâneo oriental. Há vestígios de habitação humana na ilha já no período neolítico. Já em meados de 3000 a.C., houve o surgimento da civilização minoica, que teve seu ápice em torno de 1800 a.C.

Seu nome deriva diretamente do Rei Minos, que teria sido um governante da região nos primórdios. É um local muito ligado à religião e mitologia grega, sendo o local onde surgiram os mitos do Minotauro, Dédalo e Ícaro, e sendo também o local onde, segundo a mitologia, Gaia teria escondido Zeus de Cronos.

Esse período é conhecido como Idade de Ouro de Creta, onde se desenvolveu a Civilização Palaciana, que se organizava em pequenos centros pela ilha, sendo o maior deles em Cnossos. Sua organização era talossocrata, tendo a organização social feita de acordo com o poder marítimo dos grupos dominantes. Suas relações com o Egito facilitou a expansão da cultura egípcia pelo mediterrâneo, com pode ser observada pelas artes encontradas em Cnossos, que tinham grandes influências egípcias. Também se destaca a escrita, feita de 3 formas: hieróglifa, a linear A também encontrada na Grécia continental, o que comprovava a comunicação com a sociedade cretense, e a linear B, que seria uma versão do grego antigo.

Seu desaparecimento é associado a conflitos com os Aqueus que dominaram a região em meados de 1400 a.C., criando a civilização micênica.

A própria civilização micênica teve uma queda súbita, devido segundo muitos a crises políticas e econômicas e desastres naturais. Por cerca de 400 anos, a região passou por um período de trevas até a criação dos Jogos Olímpicos, em 117 a.C.

À partir daí se inicia o período homérico, conhecido também por Período das Trevas, por se tratar de um momento em que há pouquíssimos registros históricos. Os principais são as obras de Homero, Ilíada e Odisseia.

Ilíada narra os acontecimentos da Guerra de Tróia. Essa guerra se deu pelo conflito entre Páris, príncipe troiano, e Menelau, rei espartano. Helena, esposa de Menelau, teria fugido para Tróia com Páris, e por esse motivo, Menelau, com aauxílio de seu irmão Agamenon e um grande exército, teriam iniciado a guerra para recuperar Helena.

Permeada de mitos gregos, a história também introduz grandes heróis, como Aquiles e Ulisses. Os anos de luta, a morte de Heitor, príncipe troiano e irmão de Páris, e desgastaram ambos os exércitos. Como fim para a guerra, Ulisses sugeriu a construção de um cavalo de madeira, que seria presenteado aos troianos como suposta oferta de paz. Porém, no interior do cavalo se encontravam vários soldados gregos de Menelau, que atacaram o povo troiano durante a noite, garantindo assim a vitória grega.

Já a Odisseia narra o retorno de Ulisses (conhecido também como Odisseu, daí o nome da obra) à sua terra natal Ítaca. Seu regresso demora dez anos, pois durante seu percurso Ulisses e sua tripulação atrai para si a fúria de diversos seres mitológicos, além da proteção de Atenas que o auxilia durante sua viagem.

Apesar de serem importantíssimas fontes históricas, é preciso lembrar que ambas as obras foram criadas com o intuito de entreter os ouvintes.

Nesse período, a sociedade se organizava em Oiko’s, grandes extensões de terra que incluíam seus servidores, escravos e o gado. Esses oiko’s eram liderados pelos clãs, que afirmavam descender de antepassados comuns e cujos líderes formavam a aristocracia local.  O pertencimento aos clãs, e por consequência à aristocracia, era passado hereditariamente através da linhagem masculina. Além deles, também faziam parte da sociedade os thetas, a população mais pobre que vivia da agricultura em pequenas propriedades, e os demiurgos, os artesãos. Os escravos, também parte da sociedade grega, vinham de origem bárbara, prisioneiros de guerra, ou se tornavam escravos por dívidas. O poder político se concentrava nas mãos do basileu, um rei escolhido entre os membros da aristocracia.

A existência dessas cidades isoladas favoreceu o desenvolvimento de habilidades diferenciadas entre si. Algumas regiões se dedicaram ao comércio, enquanto outras, que tinham solo mais fértil, se dedicaram à agricultura.

Em meados do século VII a.C. houve o chamado Período Arcaico, caracterizado, entre outras coisas, pela consolidação das póleis, ou Ciedades-Estado, pela retomada da escrita, pela instituição do direito por escrito, e pelo surgimento do oráculo de Delfos.

Nesse período, várias cidades abandonaram o sistema monárquico e passaram a ser governados por oligarquias, ou seja, grupos de aristocratas que governavam por instituições formais e sistemas de parentesco. A autoridade dessas famílias era explicada pela suposta relação com os primeiros habitantes da região.

A expansão grega, nessa época, foi fortemente influenciada pelos conflitos sociais. Durante anos houve um aumento populacional muito grande, o que colocava em risco a própria sobrevivência das cidades que tinham menos recursos naturais para se manter. Os grupos considerados dispensáveis eram então encorajados a buscar novas regiões para se estabelecerem e fundarem novas cidades-Estados, que mantinham as tradições culturais e religiosas gregas. Assim se deu, então, o processo de colonização da região.

Esse processo, como em qualquer processo colonizador, não era feito de forma pacífico, sendo muitas vezes marcado pelo extermínio, expulsão e submissão dos povos nativos. Essas expedições eram lideradas por “fundadores”, que frequentemente consultavam o oráculo de Delfos em busca de orientação.

Apensar de, em teoria, esse processo permitir que pessoas fora da aristocracia possam vir a obter terra, ele falhou em diminuir o abismo social causado pela concentração de terras nas mãos de um pequeno grupo. Isso, na verdade, favoreceu o surgimento de governos tiranos, onde um homem toma para si o poder sem ter autoridade constitucional legítima.

Daí surgiram os legisladores gregos, que tinham como função escrever e fixar as leis que regulavam as cidades Estado e recebiam enorme poder em uma tentativa de resolver os embates sociais do período. Destacam-se Licurgo, em Esparta, e Sólon, em Atenas.

Foi o período de transição entre o controle político da aristocracia e a formação de uma democracia.

Ainda assim, a ideia de democracia grega era muito diferente da que temos hoje em dia. Mesmo com as novas garantias, os direitos políticos ainda eram restritos aos considerados “merecedores”, ou cidadãos, que também tinham sua própria definição dentro de cada cidade-Estado. Mulheres e estrangeiros eram excluídos das discussões políticas, assim como os escravos.

Há como exemplo duas formas de governo existentes no período: uma que valorizava o governo de poucos escolhidos, como ocorria em Esparta, e outro que atribuía valor à todos os cidadãos, como em Atenas. Ambas as cidades eram extremamente militarizadas, algo atípico e que aumentava ainda mais a rivalidade entre elas.

Esparta era uma cidade extremamente militarizada, e a capacidade guerreira estava diretamente ligada à cidadania. Apenas era considerado cidadão aquele que cumprisse seu dever cívico para com a defesa da pólis, e mesmo assim os direitos dos próprios cidadãos também era bastante restrito.

Todo cidadão, ou hómoioi (os iguais), participava da assembleia legislativa, porém apenas 30 aristocratas, escolhidos entre os membros com mais de 70 anos, participavam da gerúsia. Essa era a principal instância de poder, responsável por elaborar leis e escolher os dois reis, responsáveis pelo comando do exército, e os cinco éforos, indivíduos que detinham o poder executivo sobre a cidade.

Nessa sociedade também existiam os hilotas, produtores rurais que não eram escravos, mas que tinham que ceder parte de sua produção agrícola, além de serem passíveis de receberem castigos físicos e até mesmo a morte. Há registros de algumas revoltas hilotas, que foram rapidamente subjugadas.

Essa estrutura permitiu que Esparta se tornasse a maior força militar grega. Porém, seu declínio veio no século IV a.C., em grande parte por sua incapacidade em aceitar novos grupos em seu meio e da diminuição populacional.

Atenas, por outro lado, é conhecida pela sua contribuição em diversas áreas do conhecimento, como a arte, filosofia e a literatura, ainda que também tivesse grande poderio militar.

Por Sólon, destacam-se a abolição da escravidão por dívidas, o estabelecimento do direito de defesa nos tribunais atenienses, e a consolidação de instrumentos que protegiam os grupos populares contra o poder excessivo da aristocracia. Um ponto importantíssimo foi a retirada da necessidade de possuir terras para o exercício do direito político nas assembleias, expandindo assim a noção de cidadania. Mas ainda se mantendo algumas restrições: era ateniense apenas os que tivessem pai e mãe nascidos na pólis, e que fossem resultado de casamento legítimo.

Foi criada a Ágora, localizada na parte mais baixa da cidade, onde eram realizados encontros e discussões políticas e filosóficas. A bulé era um grupo de 500 cidadãos que criava e apresentava propostas à assembleia popular, a eclésia. Além disso, foi criada a mistoforia, uma remuneração dada aos cidadãos que participavam das assembleias, o que permitia que atenienses mais pobres participassem ativamente da vida pública.

O período também foi marcado por várias tentativas de invasão pelo império Persa. Surgiram, então, a Liga de Delos, sob liderança de Atenas, e a Liga do Peloponeso, sob liderança de Esparta, que procuravam defender o território grego dos inimigos.

Com o tempo, porém, Atenas passou a abusar de seu papel na liderança na Liga de Delos. Não permitia que os membros deixassem a união, tomou para si as riquezas acumuladas durante as batalhas, e, em 454 a.C., passou a controlar sua frota marítima. Dessa forma, Atenas alcançou certa hegemonia no mundo grego.

A Liga de Delos, sob forte comando de Atenas, começou a entrar então em conflito com a Liga do Peloponeso, ambos os grupos buscando o controle da Hélade, como era conhecido o mundo grego. Se deu início, assim, a Guerra do Peloponeso., que durou de 431 a.C. a 404 a.C. Se encerrou com a vitória de Esparta e resultou na criação de um governo oligárquico em Atenas, formado por apoiadores espartanos.

O maior resultado, no entanto, foi o enfraquecimento do mundo grego. Que favoreceu a invasão da Macedônia, e dando início ao período helenístico.

O período helenístico foi marcado pela dominação e unificação das cidades-Estados gregas por Filipe II, responsável por derrotar os persas, e, posteriormente, por seu filho, Alexandre, O Grande, grande responsável por disseminar a cultura grega.

Alexandre foi um exímio conquistador. Tendo assumido o trono aos 20 anos, após sua morte aos 32 anos havia conquistado um dos maiores impérios de todos os tempos unificando os povos gregos e do Oriente sob um único governo.

Após a morte de Alexandre, o império foi dividido entre seus três conselheiros: Selouco dominou a Ásia, Lisímaco a Europa, e Ptolomeu o Egito. Os conflitos internos, inclusive entre Selouco e Lisímaco, contribuíram para um aumento na instabilidade política na região, o que favoreceu uma futura dominação romana.

Ainda que o império grego tenha perdido muito de sua força após a conquista romana, muitos dos aspectos gregos continuaram muito fortes no império romano, sendo adaptados e incorporados na cultura do povo dominante. Tanto é que, quando estudado, geralmente se fala na cultura grego-romana.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
FREE BLOGGER TEMPLATE BY DESIGNER BLOGS